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terça-feira, 31 de julho de 2012


CUNUMI

CHAMAMÉ


CUNUMI...
INFÂNCIA DA RAÇA,
QUE HABITA ESTRADAS,
CESTOS DE TAQUARA,
SORÇAL GUAYAQUI.
REPRESA TEUS SONHOS
NO CHÃO DO TERREIRO
E ESPERA UM POMBERO
LHE TIRAR DALI...

CUNUMI...
ÉS UM JURITI
DE PELE MORENA,
E ASAS PEQUENAS,
OLHAR GUARANY.

CUNUMI...
ALMITA DE BARRO,
TRABALHO E TRABALHO,
MESCLADO AO ORVALHO,
CERNO DE AGUAÍ.

CUNUMI...
E ESTE MEU PAIS
DE BRASILIDADES,
QUE VIVE A VAIDADE,
E NÃO OLHA PRA TI.

CUNUMI...
E ESTE MEU PAIS
QUE TE DEVE TANTO,
E ROUBA TEU CANTO
E CANTA POR TI... ( CARNAVAL)

CUNUMI....
ESTE É MEU PAIS
QUE QUEIMA TUA GENTE,
IMPUNEMENTE,
DIANTE DE TI. (BRASILIA)

CUNUMI...
PERDÃO EU TE PEÇO,
POR VER TUA INFÂNCIA
NÃO SER A CRIANÇA
QUE VIVEU EM MIM.

CUNUMI....
INFÂNCIA DA RAÇA,
DE PELE MORENA
E ASAS PEQUENAS,
ÉS UM JURITI...

Glossário
Cunumi- Menino(a)   Guri(a)
Guayaqui- Tribo indigena
Sorçal: Murmúrio da natureza
Pombero- Duende
Juriti- Ave de pequeno porte
Aguaí- Madeira muito resistente.

O poema diz respeito aos Guaranys que vivem a beira das estradas, os que não se prostituem, trabalham duro na confecção de cestos e outros artesanatos.




CISMANDO   GLÊNIO PORTELA FAGUNDES




De onde terás vindo

Vida matreira que hoje és minha!...

Que campos perdidos no infinito!...

Encontrei em ti consciência da razão maior para viver, que ter nascido

Vagando em pagos feito pela ausência

Despertando sois...

Amadureceste a sombra fria...

E eu sou mais no bem comum

Que tenho pela vida

Por saber que és o mesmo Deus

Que habita em mim

São iguais quem são sozinhos

Eu também sou tu,

Buscando a interpenetração das querências

Num pago feito de saudade

Vivo laçando estrelas, madrugando luas...

...e eu que pensei que a roda fosse feita de chegadas e partidas!...

Mas a roda não chega, nem parte

Vive em torno de si

Para dar ao corpo da carreta

Como eu, ilusão de ânsias percorridas!...



Deus plantou o homem na terra

Deu-lhe raízes no vento...

Voz ao pensamento,

Luta na paz, paz na guerra.

E o homem deparou em si a origem das perguntas

Eu sou a maior pergunta!...

Mas quem sou...

Não me basta de dia viver no corpo

E a noite viver na alma...

O homem que sou nasceu em mim!...

Pensou... sou semente...

Sou semente que chegou no tempo,

Pousei num ventre

Despertei nesta existência!...

Plasmado no estado de ser

Me fiz querência...

Alimento um elo cíclico telúrico da raça

Raçador, sou o prosseguimento de meus avôs

Para que meus filhos sejam entre mim e meus netos.



...mas sei, que plantado num sono de terra

Voltarei um dia destes

A nascer da morte,

Porque a terra,

A terra é o maior de todos os ventres desta vida

Sou semente que chegou no tempo!...

E sou antes mesmo de saber que era...

Hoje que sei, não me permito morrer nunca!...



... mas se após a minha morte,

Não houver mais nada...

Faço deste nada

Uma espera... sem pressa, sem tempo,

Para tornar a ser um dia...

Por isto,...

Por mais que siga distante...

Sei que não saio de mim

Sou no princípio e no fim,

Razão pura da existência...

Que vagando na querência...



O som da palavra pura,

Na expressão do pensamento

É a estrada feita no vento

Onde eu transito sem forma...

Perfumando a brisa morna

Pela preguiça do tempo...



Tenho rimas de silêncio...

Quando em vulto me desfaço...

Vogando sobre meu passo,

No rumo que me convém,...

Deixando a rima que vem

Pro verso que eu nunca faço...



Por mais que siga distante...

Sei que não saio de mim

Sou no princípio e no fim,

Razão pura da existência...

Que vagando na querência...



DAS CISMAS DE UM CAMPEIRO
MILONGA



Trago na alma gaviona,

Algum grito tajaneado,

Pelos matos de aroeiras,

Pitangueiras e banhados.



Nos mananciais extraviados,

Bronzeados de entardecer,

Que eu sempre redesenhei,

Tentando entender meus passos.



Atropelo minhas ânsias,

No lombo de um zaino negro,

Procurando o segredo,

Da intimista solidão.



E as vezes minha oração,

É um tropel de guitarra,

Com a lua “entordilhada” ,

Em sonora comunhão.



Por vezes pealo o silêncio,

Numa milonga de campo,

Com ares de contrabando,

Mesclada com serenal.


Sestrosa feito um bagual,

Ponta de cerda esvoaçando,

Macia tal qual o couro

Do tento de um bocal.



Logo abaixo da estribeira,

Sem se importar com lonjuras,

Perro baio , alma de bruxo,

“Me ajuda” a filosofar.



Num repente atalha a frente,

No esboço das taperas,

Farejando ancestrais,

Colhendo pratas da lua.



Olhos do céu me espiando,

Estrelas bordando a alma,

Passo a passo, tranco e calma,

Presságios da minha essência.



Pois já nasci com a cadencia,

Das nazarenas e bastos,

E algum manojo de pasto

Jujando minha existência..




POVOAMENTO


Milonga.

Tenho a alma mais antiga,
Que as razões do continente,
Guardei luas e divisas,
Circunstâncias do meu nome,
Que anoitece ao sul do mundo
Na garganta dos cantores.

Casta índia,espanhola,
De solidões arabescas
Conduzindo tropas largas,
Do sacramento , a colônia,
Changador , desjarreteando
Meia lua de uma lança.

Esparramei meus ajojos
Nos descampados da pampa,
Nas patas dos redomões,
De Don Pedro de Mendonça,
Prolongavam os meus braços
Três pedras e uma lança.

Tenho a idade do couro,
As margens do Rio da Plata,
Andei fogoneando saudades
Na madeira da vigüela,
Que um dia chegou a mim
Das investidas da Ibéria.

Então levantei estâncias
Nas coxilhas cepilhadas,
E os mandamentos do charque
Me plantaram nas ramadas,
Depois mangrulhei fortins,
Com o ferro branco da adaga.

Se a hoje a alma é forjada,
Com sereno de querência,
É porque trago a essência,
Tingida das quatro luas,
E a cada uma delas
Maneada minha existência.





Glossário


Arabescas- Relativo ao Árabe ou estilo.

Changador-Tarefeiro , antecedeu e deu origem ao Gaúcho Desjarreteando- Ato de cortar o jarrete para

Imobilizar o boi através da lança de meia lua.

Ajojos- De ajoujos-Cordas que prendem bois e

e outros animais. Aculturada para ajojo-

Esparramar ajojos, encontrar liberdade.

Don Pedro de Mendonza – Introduziu o cavalo

na América.

Vigüela – Do espanhól- Guitarra

Ibéria- Relativo a península Hispânica

Mangrulho- O que ficava nos mirantes para

avisar de ataques, espécie de ronda.


Tierra adentro


Milonga

Yo traigo del capataz

El sentir de los camperos

Del peón esos añelos

De andar abriendo tranqueras

Pa' que cruzen los recuerdos

En las noches galponeras

Canciones de patrias viejas

Que trae el viento pampero

Conservo cosas antiguas

Como extensiones del alma

Poncho-patria, nazarenas

Recao', sombrero, vigüela...

Tesoros que son sencillos

Lucecitas que reflejan

Una vida que se aleja

Pero no pierde su brillo

Aprendi con los mayores

Las enseñanzas del campo

Hay tantos que tienen tanto

Y casi todo les falta

La vida más olvidada

Siempre tiene su sentido

Y a veces quien poco tiene

Por dentro es mucho más rico

Si preguntaren quien soy

Digo que soy lo que canto

Y al cantar vivo opinando

Pa' no perderme jamás

Criolla sangre del tiempo

Que corre libre en mis venas

Pues no han inventao' cadenas

Pa' quien nació:... tierra adentro!

Por eso llevo estas coplas

- Memoria contra el olvido -

Pa' que mi raza amerindia

Vuelva a cruzar los caminos

En el cantar de esa gente

Que es mi razón y destino

Y pa' que el saber de los padres

Siga en la voz de sus hijos.

Yo soy el grito del tero

En las llanuras del pampa

Yo soy el gaucho que canta

En viejos patios de tierra

Criolla sangre del tiempo

Que corre libre en mis venas

Pues no han inventao' cadenas

Pa' quien nació:... tierra adentro!




Alma de barro em madeira.


Chacareira.

Meu jeito índio de ser,

Alma de barro em badeira,

Guitarra aflorando secretos,

Nos rumos da chacareira.


Por entre montes confiado,

Nas partituras do vento,

Largo meu canto no mais,

Pela elegia do tempo.


Cada copla se fez flor,

Onde mais precisa estar,

Aroma dias e noites,

Leva o perfume ao lugar.


E, me vou, em cada nota,

Levando do meu lugar,

Alma de barro em madeira,

Poucas penas e um cantar.


Meus amores foram poucos,

Mas aprendi a amar,

Resguardando pras procuras,

O que busco encontrar.


Em meus dias verdadeiros,

Enraizei minhas origens,

A ser idioma pra o mundo,

De alma sem cicatrizes.


Ocasião em minha guitarra,

Brotou esta chacarera,

Índia origem de minha raça,

Alma de barro em madeira.



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